5.9.10

Carta à Pedro Lisboa.


Grande Pedro Lisboa, Meu amigo. Penso às vezes o quão seria horrível se não tivesse conhecido sua pessoa, seu pensamento. Já parou para pensar na sua própria existência? Sua idade em relação ao universo? Seu pensamento em constante mutação? E o momento em que tudo isso ocorre? O contraditório de todas essas indagações é pensar que nem uma delas faz sentido, visto que nossa existência não é em-si mesma auto-suficiente. Nosso fluxo é um contínuo vazio existencial paralelo com o tédio que discorre de uma sucessão de desejos intrínsecos ao homem, que corrói, e de forma demasiada manipula nossos atos. Contudo, nossa existência não estará nunca satisfeita, pois, se a existência fosse auto-suficiente não teríamos a necessidade dos desejos efêmeros. Preciso respirar um pouco de otimismo, meu caro amigo. A nossa existência está contida nessa homogeneidade entre espaço-tempo. Existimos de fato – por mais que às vezes tenha provas para argumentar o contrário – de fato existimos e percebemos nosso espaço preenchido e o efeito que o tempo nos implica. Sentimos o tempo assim como sentimos a rotação e translação do planeta Terra, sabemos de seu movimento, está em movimento, mas não sentimos o movimento propriamente dito. Poderíamos ser atemporal, talvez morressemos de tédio ou não, talvez não existisse qualquer sentimento. O que enfatizo é que só há um momento no qual, “compreendemos” a nossa existência, este é o presente, único e fugaz. O passado, amigo, nada mais é que uma mera ilusão criada pela mente no intuito de nos confortar e saciar algumas expectativas já conhecidas. Não retrocede, não volta mais. Devemos pensar sempre que algo que foi não é mais e o que é, doravante, não será mais. Essa é a complexidade que problematizamos em torno do nosso ciclo existencial. Não devemos ter medo de viver, não devemos ter medo de morrer, ao contrário, a imperfeição abri possibilidades para perfeição, o que não acontece no caso de admitirmos a vida como bela e perfeita. Há válvulas de escape para respirarmos certos prazeres essenciais da vida. Contemplar a natureza, uma obra de arte sublime, deslumbrar de uma sonoplastia causada por belos instrumentos musicais, ou simplesmente sonhar. Essas maneiras nos distanciam dessa turbulência terrena, nos afasta, nos tornam espectadores de uma cena com tons dramáticos, românticos, cômicos, toda a poética aristotélica. Retomando aquela questão do vazio existencial: se nossa existência em-si não vale de nada, então como explica nossa capacidade de imprimir propriedades em objetos? Se tudo está vazio de interpretação. Segundo Kant, o sujeito que imprimi a propriedade no objeto, nada está contido no objeto, antagônico a Aristóteles que elucidava na arte haver determinados sentimentos providos de específicos espetáculos, o que ele cognomina de Catarse. Amigo, sem tua presença me sinto em uma solidão intelectual, um sentimento derivado de toda essa complexidade que temos em viver. Por mais esporádico que tenha sido nossos embates, peço para que não perca nunca essa determinação e essa vontade de ir além do horizonte independente de que outros vão pensar ou especular. Atravessar o infinito é a nossa meta, explorar a nossa mente é a meta. Ouse, viva, aprenda, beba, dance, sorria, chore, sangre, cante, durma e não sinta mais nada. Tente o máximo, pois quando chegar ao máximo descobrirá que é o mínimo que pode conseguir. Dedico essa minha singela expressão ao meu amigo, meu Irmão que tanto admiro Pedro Lisboa. Meu amor por ti é misturado com ódio, da mesma forma que te amo é a mesma forma que te odeio assim quis Heráclito e assim é nossa emoção. Obrigado amigo por continuar existindo mesmo com toda conturbação violenta que experimentamos quando nos movimentamos. Viver hoje em dia é raridade, somos peças raras e como às vezes falo deveríamos construir um país onde somente pessoas como nós “filhos da puta, desgraçados, revolucionários e simpáticos” possam residir. Claro, essa utopia é bem seletiva, como na história do mundo nos mostra e Darwin ilustra, a seleção natural fará todo o processo de aniquilação dos inapropriados. Vamos continuar nessa luta para não ser aniquilados e poder um dia subir na montanha mais alta acender um cigarro e rir de tudo que está acontecendo lá em baixo sem se esquecer da onde viemos e que poderemos descer um dia para revolucionar algumas mentes.
OM MANI PADME HUM.

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