5.9.10

Atáraxia; Nirvana; Ou o que desejar.



Quero somente poder sempre que acordar de manhã, deslumbrar de um lindo alvorecer no limiar do dia. Observar bem de longe como quem só quer admirar um fenômeno sublime da natureza. Um rio de luz se propaga por toda dimensão espacial, trazendo cor e sentido para todas as flores e insetos da fauna. Respiro fundo e sinto o sol entrando na minha pele enchendo meu coração daquele intenso, porém, fugaz momento de felicidade. Era somente ele e sua existência naquele instante, nada mais além do vazio existencial preenchido por uma suave ilusão de alegria. Minha existência se afirma em um estado contemplativo, onde todo pensamento se concentra numa única vontade, de só querer estar lá pra observar toda forma de vida se manifestando em um belo quadro impressionista. Retorno para dentro de minha casa e preparo um esperto café para acompanhar meu dia, pois nasceu um belo sol, após aquela chuva que lavou meu espírito e renovou meu pensamento. Os bois e as vacas estão pastando lá no cume da montanha, onde o vento sopra mais forte e toda paciência calmaria se encontram, aves coloridas voando sob um mar azul que passa pela minha cabeça, onde todas as cores se espalham na natureza, a chaleira dá o sinal que o café está pronto. Sirvo-me uma caneca e como de costume sento em minha velha cadeira de balanço na varanda de minha casa para continuar a contemplar esse belo rio azul sem fim. Espero a noite chegar, nessa época do ano o gramado chega a ficar fluorescente com os pirilampos a passear pelos jardins do meu quintal. Hoje a lua se esconde e deixa somente que as estrelas participem da festa, por isso, o que nos iluminará nesta noite, serão as constelações e galáxias que posso observar daqui da varanda. Esporadicamente vejo um cometa rasgando o céu do meu quintal. Não há iluminação, a única luz que se expandi é dos vagalumes e estrelas cadentes cortando o espaço. A sonoplastia é de elevar qualquer sensação auditiva ao estágio mais puro de beleza. Kant alegava que o juízo estético é tão forte no sujeito que causa uma sensação de querer universalizar aquele gosto, aquele momento. Faz com que o sujeito sinta a vontade de compartilhar sua sensação. Minha mente é um eterno conflito com esse paradoxo kantiano sobre a beleza. É verdade que naquele instante onde deslumbro de um sublime crepúsculo, penso nas pessoas mais queridas que conheço e exijo comigo mesmo que todas estivessem aqui para sentir esse efêmero entusiasmo causado pelo sol. É um pensamento "falso", não quero realmente estar acompanhado por todas as pessoas queridas, amo todos com o mais puro amor, mas, por favor, só quero ficar sozinho, quieto na minha consciência de mim mesmo. Essa minha exigência não é nada mais do que uma mera ilusão momentânea de felicidade e depois que esse bloco passar, como é que fica meu estado espiritual satisfeito de tanta felicidade, me vicio, fico viciado em ser feliz. Contudo, é um desejo muito complexo de cumpri e uma vez que experimentado é necessário sempre estar em posse desse estágio espiritual tão ardo de se atingir. Minha felicidade não está nas relações interpessoais, ela abrange toda forma de vida, toda relação sujeito-obejto. Tento sempre me distanciar da minha própria natureza, onde todo o desejo movimenta minhas ações. Esses monólogos são realmente esclarecedores. Melhor eu entrar, está ficando frio aqui fora e já avisto a primeira cor a nascer além do horizonte.

(Thiago Barros)

2 comentários:

Lara. disse...

"me vicio, fico viciado em ser feliz." Bravo! Bravo!
Tudo lindo e alucinante, como você mesmo diz. Farei visitas constantes!
sua amiga, Lara.

Lara. disse...

"me vicio, fico viciado em ser feliz." Bravo! Bravo!
Tudo lindo e alucinante, como você mesmo diz. Farei visitas constantes!
sua amiga, Lara.