8.5.12

Epifania


Bem, lá estava ele novamente entrelaçado pela fumaça que sai do cigarro aceso dentro de um cinzeiro. Há tempo que ele não vinha neste lugar. Por alguns instantes achei que estivesse se esquecido, ou talvez até morrido. Lembrou bem daquela singela sensação fugaz de alívio. Daquela nostalgia que invadia seu corpo e o fazia buscar forças, na mais esquecida inspiração, que elevara o gênio àquele estado de contemplação pura. Por anos ele meditou sobre os passos acelerados daquelas pessoas da cidade, que pela ignorância são iludidas em uma jornada pela busca da felicidade, este estado de espírito tão deturpado pelos apressados. O ruído frenético dos carros que rasgam a barreira do silêncio havia expulsado-o daquele lugar há algum tempo. Não mais sentia o sol. Não mais via a Lua. E das estrelas que sentira falta, irá aguardar sorridente a lua nova trazer de volta aos céus. Hoje a lua cheia alumia a vida. Enquanto observava e pensava nela, sentia seu egoísmo ocupando o céu. Não há espaço para outras estrelas. É a sua festa, seu brilho acima de tudo que está presente. Porém, se o egoísmo para nós é algo a ser considerado de valor negativo, na lua cheia, é traduzido como o momento de iluminação da alameda dos inebriados pelo seu brilho rejuvenescedor. Hoje acompanho a transição lunar deitado na rede da varanda. Aqui é calmo, tranquilo e não há nenhum barulho estridente. Na cidade, as pessoas vivem no extremo limite do estresse e da ânsia de conseguir ser alguém antes mesmo de Ser. Essa incoerência me assusta. Ovaciono minha calmaria e junto dela brindo minha sanidade que me faz sentir eterno. Incorporo na natureza formando um só ser. Dedico minha responsabilidade e meu altruísmo em prol dela. Para o bem estar da minha mente. No entanto, mergulhamos sempre em um paradoxo inexorável até a mente ficar sã. Criamos uma luta em busca da nossa paz interior. Porém, se pensarmos assim, classificaremos a paz como uma consequência do espírito. Contudo, essa não é uma sensação qualitativa, não é uma qualidade de o indivíduo estar em paz com ele mesmo. É um equívoco que cometemos. É só retomarmos ao pensamento de Epicuro e lembrarmos a imperturbabilidade da alma sendo um estado de espírito. Devemos viver e buscar esta Ataraxia.             

            Foi aberta a temporada de caça a felicidade e nessa competição é válido qualquer artifício para obtê-la. Seja ela egoísta, seja ela altruísta ou até mesmo violenta. Qualquer máscara é cabível e no mercado encontramos várias máscaras diferentes, é só escolher. A cidade sempre celebra mais uma conquista que a grande mídia traduz com um malicioso: “Você também consegue!”. Toda essa velocidade avassaladora consome o espírito urbano. Há muito tempo a felicidade deixou de ser um estado de espírito para ser um fim possivelmente alcançável. Todavia, mal sabemos o que é ser feliz, confundimos felicidade com a satisfação pessoal meramente egoísta. Essa é uma doença destruidora para o nosso espírito. A estrada que nos leva à felicidade não tem nada a ver com o que é somente material, ou seja, superficial. Está para, além disso, se encontra na parte mais elevada do espírito. É na elevação do homem em harmonia com a natureza, na dissolução do seu egoísmo que ele consegue vislumbrar a felicidade. Sinto um leve suspiro enervar minha percepção sonora, carregando para longe toda minha concentração. Por um instante, tentei reunir forças para abrir meus olhos como quem tenta ao máximo enxerga o que há no escuro, de certa forma foi uma tentativa infrutífera. A preguiça que dominava meus movimentos deixara tudo em minha periferia distante mais tão distante que não conseguia concatenar nenhuma ação. Notei que havia um sorriso dentro de mim que cativava uma singela euforia. Uma voz calma e delicada dizia ao meu ouvido algo confortante: “Não se preocupe, o mundo é um eterno movimento. O que é já foi e o que vai ser já é”. Que belas palavras, soava como um mantra aos meus ouvidos.     

            Às vezes penso que naquele instante, no qual, sento na escada da varanda e observo o jardim repleto de ipês florescendo cores amarelas, misturando-se com as papoulas em seu tom avermelhado, fazendo um quadro de Monet no meu quintal. E assim observara extasiado como o efeito que essa sintonia de cores proporcionara ao seu estado de espírito, como acalmava suas angústias. Sentira seus pensamentos negativos se dissiparem dentro de si mesmo. Uma sublime sensação estética se espalhara pelo seu campo sensorial enveredado de boas paixões. Conseguiu sentir a filosofia de Spinoza: dizendo que tudo é pensamento em coesão com a natureza. Tudo é possível de ser conhecido, isso que traduz a transformação do homem, nesse processo de conhecimento. Entendo essa filosofia também como uma amplificação da sensibilidade. Somos expressões da natureza. Uma conexão intrínseca que movimenta todos os sentimentos e faz a minha cabeça - quando me repouso para contemplar o jardim - escreve milhões de livros, poesias e contos que somente observando-o consegue fluir. Mas do que adianta todo esse turbilhão de pensamentos passando por minha cabeça se quando são manifestados de maneira linguística, se dissipam espalhando-se no ar com o vento? Quando o pensamento é expresso de maneira verbal literalmente, longe de toda aquela abstração que permeia o próprio pensamento, ele se perde um pouco no caminho labiríntico do expressar. Contudo, a expressão pode ser um conforto, uma redenção para várias situações, na qual, o pensamento aprisionado em nossa mente não consegue resolver, a não ser quando vem dizer: "bom dia ao mundo". O que me agrada de verdade é essa sensação de bem-estar com o universo. A simples arte de contemplar a vida mesmo sendo ela acarretada de sofrimentos que nossa ignorância cobre e disfarça com outras ilusões, estas que não suprime nunca nossa necessidade de viver. O desejo é a contramão da felicidade. Estamos eternamente viciados nesse ciclo existencial. Agora o que me restas é abrir um livro para me desprender da infinitude.


(Thiago Barros)

Entropie/Lysergic/Sunaísthesis


Lá no alto da montanha têm um lindo arco-íris.
Que me faz lembrar o seu olhar
olhando para mim sorrindo.
É hoje e são quase quatro da manhã.
Pinto o céu com o meu olhar.
São tantas cores.
Eu vejo o Sol e Lua no céu.
Iluminando o meu corpo.
Daqui de cima eu enxergo muito mais.
Com outras cores.

Lá no alto da montanha têm um lindo arco-íris.
Que me faz lembrar o seu olhar
contemplando o paraíso.

Minha mente é clara quando transbordo de euforia.
Uma explosão de emoção que contagia.
Sensação gostosa do infinito.
Atravessa meu espírito.
Contamina minha alma.

Lá no alto da montanha têm um lindo arco-íris.
Que me faz lembrar o seu olhar
Alumiando o meu caminho.



Thiago Barros