11.12.08

Cade as árvores que estavam aqui?


Está tão calmo, o vento sopra, consigo ouvir a sonoplastia reproduzida pelas árvores em dança. Os rios correm com a liberdade de uma criança no parque de diversão, as moléculas d’gua me lembram cristais percorrendo uma avenida azul no interior do céu. É a idéia de tranqüilidade transportada pra realidade; momentaneamente consigo sentir meus pulmões expirarem e inspirarem toda a pureza e limpeza do oxigênio que só há neste lugar. Sempre penso que posso estar vivendo um sonho eterno, uma utopia tão verdadeira que por algum instante me faz sentir um medo em que tudo possa se perder no vácuo, seria a dissolução da minha paz, porém, acontece com todos nesse mundo material tão complexo de se viver. Os dias passam tão calmo, o sol reluzente clareia o entorno dos meus passos, o verde quase que fluorescente acalma minha ansiedade contrastando com o azul celeste que me faz sentir uma alucinante sensação de vida. Sinto-me vivo aqui. Um dia, esse dia, o dia mais estranho, coisas que nunca imaginará ver surgem em frente aos meus olhos tão assustados. Que barulheira! Será que o céu está desabando?! Os trovões estão irritados?! Mas o céu permanece azul por enquanto. Pessoas aparecem como estrelas ao anoitecer, estrelas das quais talvez não viria mais! Não sei mais aonde estão as árvores que viviam aqui, sumiram, o céu que de tão azul parecia transparente começa a nascer um tom de cor nunca visto antes, um tom escuro, as nuvens brancas e lindas estão tão tristes, não param de chorar e o que é mais triste que seu choro traz destruição às árvores quase mortas, um choro execrado. Parece-me que estas pessoas que surgiram não se incomodam com o choro das nuvens, se sentem até confortáveis. O rio de tão livre que lhe parecia, acho que os incomodou de tal forma que tomaram posse. Este lugar não é mais o mesmo, a mesma calma não existe mais. Tomaram o lugar inexoráveis construções. Nasce um sentimento que deveria ser execrado por todos os homens, uma vontade de crescer que atropela os próprios passos. O mundo já não gira em torno de todos e sim de cada homem que aqui habita. O ar? esse sim foi o mais castigado desta região, tão limpo, tão fresco e agora tão tóxico e denso que é difícil de respirar. Acho que não vivo mais no mesmo mundo. Cadê as árvores que estavam aqui? Que monumentos são esses que tampam o sol e chegam nas nuvens? Que ousadia tocar as nuvens que não incomodam ninguém. Queria de volta a minha tranqüilidade! (thiago)

14.11.08

Schopenhauer.


"As cenas de nossa vida são como imagens em um mosaico tosco; vistas de perto, não produzem efeitos - devem ser vistas à distância para ser possível discernir sua beleza. Assim consquistar algo que desejamaos significa descobrir quão vazio e inútil este algo é; estamos sempre vivendo na expectativa de coisas melhores, enquanto ao mesmo tempo, comumente nos arrependemos e desejamos aquilo que pertence ao passado. Aceitamos o presente como algo que é apenas temporário e o consideramos como um meio para atingir nosso objetivo. Deste modo, se olharem para trás no fim de suas vidas, a maior parte das pessoas perceberá que viveram-nas ad interim[provisóriamente]: ficarão surpresas ao descobrir que aquilo que deixaram passar despercebido e sem proveito era precisamente sua vida - isto é, a vida na expectativa da qual passaram todo o seu tempo. Então se pode dizer que o homem, via de regra, é enganado pela esperança até dançar nos braços da morte!"
(Arthur Schopenhauer.
O Vazio da Existência.)

19.8.08

Cidade, Noite e Luzes


E as luzes do centro da cidade vão se apagando em uma tal sincronia, demasiadas esplendidas aos meus olhos solitários e cansados. Uma por uma em cada pilastra de concreto se acendem, do mesmo modo em que minha garrafa de cachaça se esvazia. Enquanto é dia sou alvo de inexoráveis críticas. Injustiçadamente violentado por pensamentos, palavras e olhares execrados, até mesmo por energia física. Não generalizo. 3 reais por semana é o meu sustento, penso, que nem com 10 anos de poupança não conseguiria uma ascensão paulatina. O que me restas a não ser 910ml de aguardente? É difícil acreditar como fui logrado por uma expectativa de vida plausível. Deixei pra trás tantos sonhos, amores para buscar um sonho abstrato que se dissolveu no ar numa brusca velocidade. Mas será culpa minha? Ou será a culpa de meros demagogos populistas? Não sei mais o que é ter uma noite de sono tranqüila. Ouço um tumulto, já não consigo entender mais nada. Não tenho minha cachaça, meus olhos estão embaçados. Algumas sinuosas me rodeiam, uma gritaria que deveria ser considerada poluição sonora. Meu corpo já não sente mais nada. Não consigo entender essa sociedade, outrora lutam pela preservação da natureza e por limpeza da cidade e agora as sujam com o meu sangue derramado. Agradeço a todos que me ajudaram jogando matéria orgânica, papelões, cobertores no lixo. 25ºC é quase uma nova era glacial ao meu ponto de vista. Despeço-me com um pouco de alegria, envolto de tanta confusão, tantas hemorragias, tantas fraturas, me fizeram lembrar meu nome que havia esquecido há algum tempo. Morro com a glória do pseudônimo Mendigo.
(Thiago)

7.7.08

Alguns meses depois...


Paredes cinzas, uns dois sofás, alguns pufes espalhados pela sala, no fundo uma média mesa de madeira com um quadro estampando um semblante um tanto confuso de Freud centralizado na parede e uma grande porta de vidro, porém, sua cortina impediam a visão ultrapassar para o espaço de dentro. Um silêncio predominava e algumas pessoas esperavam por algo, que com certeza não sabiam o que era. Semblantes embotados de desespero, confusão, depressão e angústia eram comuns no recinto. Nenhuma só se quer palavra era recitada a não ser alguns nomes, mas poucos se apresentavam. Quem será ela que anunciava os nomes com uma intensa frieza? – não apresentava um só sentimento! Enfim, o silêncio se rompe com um guizo preso que anunciava a porta se abrindo... Blim lim lim blim lim lim. E todos em frações de segundos pareciam que tinham voltado a vida e suas cabeças se movimentavam 90º à direita, com o objetivo de ver quem era o rapaz que deveria conter os mesmos sentimentos de todos ali presentes na sala. Ele entra e se senta como se não houvesse ninguém ao seu redor.
Que olhares famintos! – pensava ele.
As horas passavam paulatinamente e uma sinfonia se compusera com, relógio e alguns extintos pássaros enaltecendo. Tic-tac tic-tac fíu-fíu fíu-fíu tic-tac tiiic-tac. As gotas d’gua iam se evaporando na forma com que a sala ia se esvaziando, logo, não restara dúvidas que ele seria o próximo. Enfim o silêncio se rompia novamente e aquela senhora que aparentemente parecia está desanimada, louvava o último nome.
-John, pode entrar! – dizia ela.
Sua adrenalina subia e um frio na barriga o impedia de se levantar, no entanto, ele via que não tinha saída a não ser entrar na sala e se deitar no divã.
-Bem, vamos inventar sua doença. – dizia o psicólogo. (Thiago)

1.5.08

Alguém para acender meu cigarro?


Está frio, não? - pensa John.
6:00 da manhã o despertador canta... trim trim trim
Seus movimentos ao se levantar são tão lentos. A primeira coisa que John procura é seu maço de cigarro, porém não os encontra, logo sente uma pequena solidão. Será que tem café? - pensa ele. Seu corpo parecia estar congelado. E sua agonia por um cigarro aumentava cada vez mais. Lembrava que tinha comprado um maço de Lucky Strike na noite passada, o único dinheiro que tinha foi para tabacaria, na qual foi adquirido seu cigarro. A bagunça de seu apartamento era tamanha que mal conseguia achar seu casaco na forma de conter o frio. Revirava seu sofá, levantava seu colchão, puxava seu travesseiro pra um lado, lençol para outro.Não conseguia entender o por que disso está acontecendo, tinha prometido pra si mesmo que pararia de fumar a partir do final do inverno passado. Contudo, ele tem uma vaga lembrança de ter ido ao banheiro ontem a noite, pra vomitar, pois, tinha chegado bem ébrio. Correu para o banheiro e abriu todas as gavetas em busca de seu maço. Uma por uma foram se abrindo e nada de o encontrar, suas mãos tremiam, mas não sabia se era de frio ou abstinência. Cada segundo que se passava o frio se tornava mais intenso e mal conseguia controlar suas mãos. A força com que abria as gavetas ia aumentando conforme não ia achando e sua esperança se esgotando, até que na penúltima gaveta ele encontra seu maço um pouco amassado, porém, reluzente. Sua felicidade foi extrema, logo, pegou seu cigarro com suas mãos tremulas. Deixa-o cair no chão umas duas, três vezes antes de pô-lo na boca ressecada do frio. Põem sua mão no bolso a procura de algo para acender, seu desespero aumenta, pois, não encontra nada. Corre até a cozinha, foi o caminho mais demorado de toda sua vida, o som de seus passos era semelhante ao desespero de sua cabeça. Acende o fogão mais o fogo não surge, pois, o gás havia acabado alguns dias atrás. Começa a agressão ao fogão com chutes e socos, a lágrima de raiva e angústia escorre do seu rosto e o desespero aumenta, seu coração acelera. E toda vizinhança acordava com seus gritos desesperadores de dor e solidão:
- POR FAVOR, ALGUÉM PRA ACENDER MEU CIGARRO?
- POR FAVOR, ALGUÉM PRA ACENDER MEU CIGARRO?
Os gritos foram tantos que sua garganta sangrava e sua voz sumia pouco a pouco, porém, ninguém surgia para acender seu cigarro. Seu corpo começava a se estremecer. E sua cabeça parecia que ia explodir, sendo assim ele fecha os olhos e pensa:
Está frio, não?
(thiago)

30.4.08

Por que não fazer?

Tudo que pensei em um dia ser pra sempre, simplesmente pra sempre nunca foi. O que nós poderíamos entender sobre a relativa eternidade? Nós somos matéria, simples e inútil matéria orgânica composta por átomos. Sendo, assim, com uma única certeza: Se desmaterializar. Pois, nada dura para sempre e quando tudo se acaba nossos átomos se deslocam para um novo início. Uma "reciclagem da vida" para entendermos melhor esse ciclo. Muitos simplesmente vivem por viver. Sem questionamento nenhum sobre o seu sentido, achando que a vida nada mais é que uma breve estadia no paraíso. Uma temporada que dura em média 72 anos. Poderíamos até dizer que os átomos são hospedeiros, durante nossa permanência em vida. Com um pouco da idéia materialista, nossa alma é composta por átomos e quando ocorre a falência do ser, esses se desprendem e ficam se movendo no ar até formarem outros, logo, nossa alma não é imortal. Perdemos tanto tempo pensando como algo possa durar pra sempre, que deixamos de viver a vida como se cada dia fosse o último, se prendendo por valores totalmente contraditórios e desprezíveis. “Ouse tornar-se o que você é” dizia: Nietzche. Não podemos apenas sentar e ver as coisas acontecerem sem se perguntar o por que disso está acontecendo. Na vida, constantes perguntas aparecem. E o que você faz? Ignora. Acreditando somente num Teocentrismo. Se uma pedra caiu no chão, não foi porque Deus quis; e sim por que existe uma gravidade que a puxa para baixo. Esses pensamentos medievais só levaram a tentativa de maquiar um pouco a vida da verdade. Uma revolução cientifica no renascimento, nos fez enxergar um mundo de uma forma totalmente particular, tirando a maquiagem completa da igreja. O exagero é a forma com que temos de chegar ao limite da vida, não se prenda por coisas pequenas. Viver bem é tão raro quanto ser feliz a vida toda, pois, todos temos nossos momentos de tristeza. Pare e pense o por que de estar triste e esqueça. Contudo, continue a seguir, pois, algo que valha a pena de verdade não nos faz sofrer. Ouse, viva, aprenda, beba, dance, sorria, chore, sangre, cante, durma e não sinta mais nada. Tente o máximo, pois quando chegar no máximo, descobrirá que é o mínimo que possa conseguir. (Thiago)