17.6.12

Crônica sobre uma tosse inexorável.

Ele tem tido suas piores madrugadas de sono que há muito tempo não tinha – desculpe-me o exagero, são duas semanas no máximo – muitos poderião pensar que ele está somente apaixonado ou que o seu amor não está sendo correspondido, mas, veja bem, ele rezava para que fosse isso mesmo. Na verdade uma tosse vem assolando suas madrugadas de maneira inexorável, o estridente barulho causado no silêncio lhe incomoda tanto, ao ponto de achar que ficaria surdo ou louco. E a sua inquietude misturada com um pouco de compaixão que sente pelos seus vizinhos, vão além da mera dor física e irritação na garganta. Ele pensa consigo mesmo: Coitados dos meus vizinhos que devem estar dormindo essa hora em suas camas aconchegantes e quente, com sua esposa e filhos carinhosos imersos no silêncio da madrugada até ouvirem uma tosse insuportável rasgando o sossego que eles tanto procuravam até conseguirem dormir nos braços dos deuses dos sonos e sonhos. Ele tem visto o dia amanhecer todos os dias, e não é por que ele está deslumbrando e contemplando o crepúsculo, de certa forma, mal consegue se concentrar no espetáculo da natureza que ele tanto ovaciona. O que lhe traz essa insônia é o incomodo da sua tosse; é ela que tira toda sua paz, sua tranquilidade. Infelizmente, ela só lhe ataca na madrugada, no momento silencioso – pelo menos era para ser - que consegue ter. Bom, ele não reza para que melhore, ele se remedia, exercita sua saúde para poder se manter de pé e tentar refletir sobre o momento, pois até na enfermidade o homem tem que se manter saudável e com a sua mente sã, senão enlouquece com o barulho ensurdecedor daquela insuportável tosse maldita que ele vem cultivando por algumas semanas. Creio que seja uma fase, um momento de reabilitação da minha saúde. Visto que, até na saúde a lei da transitoriedade das coisas é aplicável.

(Thiago Barros)

8.6.12

"Viajando Sozinho, na estrada do autoconhecimento".


Destaco trechos de um texto publicado na Revista Hardcore da edição de Janeiro 2011. Onde o escritor retrata a experiência de cair na estrada sózinho, como o próprio retrata: "Não estou apenas sem eletrônicos. Estou sem companhia, sem cartão de crédito, sem mapa, sem planos, sem motivo, sem noção... tudo aquilo que confirmava minha antiga existência foi-se de uma vez." Particularmente, achei contagiante a forma como é descrita essa experiência. Compartilho em parte, algumas idéias. Não sei se tenho forças para romper essas correntes virtuais. Espero um dia conseguir. É como aquele velho samba do Candeia interpretado majestosamente por Cartola: "Deixe-me ir preciso andar, vou por aí a procurar sorrir para não chorar/ Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar, depois que me encontrar". Foi a maneira mais poética que eu já vi, para retratar uma busca pelo autoconhecimento, para evolução enquanto ser humano. Fica esse trecho do texto escrito por Nathan Myers.

“Não Decida”.

           " [...] Dias passam despercebidos. Sem posts no Facebook nem email, talvez nem existam.
O swell desaparece. A maré não se move. A lua desaparece. Jogo pedras na água. Converso com gatos. Parto sem avisar ninguém e sigo rumo aos céus.
            Em algum lugar nas montanhas, bebo café colhido por perto e torrado frente aos meus olhos. Bebo sopa de legumes de uma horta local. Fofoco com velinhas sobre arroz e pipas. Canto karaoquê e leio metade de um romance [...] Quebro nuvens com o pensamento. [...]
            Questiono por que precisava de tudo aquilo que estou sem. Criaturas tão esquisitas e cheias de necessidades. Macacos aficionados com Deus e com tendências suicidas. As pessoas fumaram cigarros por anos antes que alguém lhes dissesse que causa câncer. Mesmo assim, continuaram fumando. Quanto tempo até descobrirmos que nossos celulares causam transtorno de déficit de atenção e redes sociais causam retardo social? Já estão abrindo centros de reabilitação para viciados em internet, o que significa que provavelmente é tarde demais. [...]

“Nunca Chegue”.

            [...] Estou indo para casa quando percebo que não tenho casa. Estou procurando internet quando percebo que não ligo para internet. Estou indo em direção ao mundo quando percebo que o mundo é que está se lançando em minha direção.
É ai que passo no farol vermelho. É aí que o guarda apita. E é aí que acelero pela minha vida e acabo surfando uma onda que nem conhecia. Acho que tudo isso deve significar alguma coisa. Ou não.
            Viajar sozinho é procurar por algo que você já tem. Ao deixar sua vida, você descobre exatamente onde ela está. Perspectiva é um espelho retrovisor. O vento deveria estar soprando, mas não está. O swell geralmente não chega a esse ponto da costa, mas chegou. Eu não deveria estar aqui sozinho, mas estou. Estou morrendo de vontade de contar para alguém sobre a emoção de viajar sozinho... E irei."

(Nathan Myers – Viajando Sozinho, na estrada do autoconhecimento)