14.9.10

Magical mystery tour.


Quinta feira, dia 29 de outubro de 2009. Ou seria dia 30 de outubro, início de uma sexta feira? Não consigo entender a relação entre essas duas datas, fica um tanto quanto distorcido pra mim. Lembro-me que numa quinta-feira de manhã, a minha compreensão do mundo e dos meus sentimentos começaram a tomar um rumo totalmente desconhecido. Seria o prelúdio de uma viagem mágica, uma viagem, na qual, entraria em um corte atemporal. Abri as portas da minha percepção, amplifiquei meus pensamentos e deixei-a entrar, pra segurar a minha mão e me acompanhar numa magical mystery tour, que seria a transição do meu corpo material sensível para um mundo além-intelígivel. Para descobrir um universo paralelo. Entendo que tudo que escreverei aqui será incompreensível para qualquer pessoa que nunca tenha antes sentido pelo menos 1/3 desse sentimento transcendental. As 24 horas que um dia contém tornaram-se bem relativas nesse espaço-tempo em que me encontrava ao lado dela. A relativização dessas 24 horas era devido ao fato de que estar com ela nessa misteriosa viagem, não existia uma compreensão de tempo, era tudo distorcido num paradoxo temporal entre a realidade e a não-realidade - que pode ser considerada realidade, por que a partir do momento que tomo algo como real independentemente de qualquer concepção exterior não presenciar tal realidade, esta é real para a minha percepção particular - Não existia hora, dia, ano, nome. Qualquer substantivo, adjetivo. Não há nada que possa entender além de ser Eu e Ela nessa linha temporal cortada por uma transcendência deslumbrante. Contemplamos a transição dos dias que não fazíamos perceber. Presenciamos o céu num momento nublado fazer um espetáculo de modificação de cores, e as cores atravessavam o nosso corpo, fazendo surgir estrelas ao redor e tão próximas que parecia que estávamos dentro delas, estrelas-cadentes passavam rasgando nossos olhos, tudo se tornou tão vivo e intenso naquele momento. Meus pensamentos estavam voltados a ela numa ligação demasiadamente forte. Embarcamos num trem espacial rumo à lugar algum. Onde fomos parar? E como voltamos para cá? Não imaginávamos nada disso acontecer, não planejávamos nada. Apenas acordei as 08h45min da manhã de uma quinta-feira nublada, tomei meu café da manhã e fui encontrar com ela para fazer uma caçada mágica. Totalmente descrente de qualquer resultado magnífico, até que quando chegamos ao local, já de início fomos presenteados com um cogumelo bem singelo, porém, de uma grandeza exuberante, que eu dei a ela, na forma de uma aproximação romântica. Acho que foi o melhor presente que já dei a alguém. Floresceu uma ligação inerente que já havia vislumbrado, porém, não tinha consciência. Com efeito, não escrevo aqui qualquer esboço filosófico sobre o que senti em relação a minha experiência com o cogumelo e sim um ensaio sentimental em relação à flor que germina no meu coração. Tratarei dessa concepção filosófica em outro ensaio mais "racional". Acho que me tornei um hierofante ao lado dela e ela se tornou também ao meu lado. Compreendemos a nossa existência e o nosso significado. Descobri que a idéia, a percepção alheia vale mais que qualquer padrão estético de beleza que a sociedade impõe. Tomam algo que é particular como universal sem terem nenhuma idéia de beleza universal. Isso não existe. Como podem impor algum padrão no meio de tantas opiniões diferentes, prefiro seguir o caminho do conhecimento, me faz ser menos eu e feliz, pois, quando sou eu, faço parte de um conjunto de idéias imprimidas na minha mente por um mundo exterior, um mundo sujo e banal. Quando eu for eu sozinho, só vou querer estar com ela, por que ela me faz ver a vida em dimensões psicodélicas, cores vivas e sonoplastias divinas. Ela me faz tornar alguém que eu sempre quis ser. Alguém feliz. Acho que encontrei a girl with kaleidoscope eyes que viaja num céu de diamante. Tomara que eu tenha força e ela também para nos segurarmos nessa turbulência mundana que faz as pessoas de mais fortes ligações se perderem e nunca mais se acharem. Quero ser forte para passar força pra ela, ou que tudo isso seja recíproco e protocooperativo.
Mas, infelizmente, não tivemos força para seguir adiante, restou apenas recordações e aprendizados de coisas tão belas, que só são tão belas no momento em que se torna presente, visto que, quando ultrapassam o momento de felicidade só se tornam nostalgia e aflição por uma época que já se foi. Sinto-me feliz por ter compreendido todo esse aprendizado que nos mostrou durante o tempo em que estivemos juntos, agradeço a elevação espiritual e guardo comigo um pedaço de veras significância dentro do meu coração que agora se encontra hibernando num sonho de sentimentos vazios.

(Thiago Barros)

11.9.10

Monólogo acerca do Eu sózinho.


"Você já parou pra pensar que sua mentira pode ser a minha verdade? Ou que a sua verdade pode ser a minha mentira? Ou seja, não existe uma verdade universal quando se trata de sentimentos. Está além, se concentra no âmbito do particular, o que eu sinto é demasiado bom pra mim no meu eu lírico. Não há nunca como saber o que eu sinto, o que fazemos cotidianamente é simplesmente comparar nossas emoções. Entendo o sentimento de outrem através da minha experiência similar. Entretanto quando percebemos com delicadeza a emoção do sujeito, se aplica em nós uma catarse, no qual, faz com que toda aquela escala de sensações que tivemos ao ouvir o discurso sentimental do outro locutor, se manifeste em meus sentimentos despertando assim uma sensação de familiaridade com o que o diálogo todo consiste. O que eu sinto, eu sinto e você nunca irar saber e vice-versa. O que nos restas é apenas deslumbrar destas emoções estéticas produzidas por belos diálogos sentimentais onde é exposta toda emoção que corrompe nossa mente e coração."

5.9.10

Atáraxia; Nirvana; Ou o que desejar.



Quero somente poder sempre que acordar de manhã, deslumbrar de um lindo alvorecer no limiar do dia. Observar bem de longe como quem só quer admirar um fenômeno sublime da natureza. Um rio de luz se propaga por toda dimensão espacial, trazendo cor e sentido para todas as flores e insetos da fauna. Respiro fundo e sinto o sol entrando na minha pele enchendo meu coração daquele intenso, porém, fugaz momento de felicidade. Era somente ele e sua existência naquele instante, nada mais além do vazio existencial preenchido por uma suave ilusão de alegria. Minha existência se afirma em um estado contemplativo, onde todo pensamento se concentra numa única vontade, de só querer estar lá pra observar toda forma de vida se manifestando em um belo quadro impressionista. Retorno para dentro de minha casa e preparo um esperto café para acompanhar meu dia, pois nasceu um belo sol, após aquela chuva que lavou meu espírito e renovou meu pensamento. Os bois e as vacas estão pastando lá no cume da montanha, onde o vento sopra mais forte e toda paciência calmaria se encontram, aves coloridas voando sob um mar azul que passa pela minha cabeça, onde todas as cores se espalham na natureza, a chaleira dá o sinal que o café está pronto. Sirvo-me uma caneca e como de costume sento em minha velha cadeira de balanço na varanda de minha casa para continuar a contemplar esse belo rio azul sem fim. Espero a noite chegar, nessa época do ano o gramado chega a ficar fluorescente com os pirilampos a passear pelos jardins do meu quintal. Hoje a lua se esconde e deixa somente que as estrelas participem da festa, por isso, o que nos iluminará nesta noite, serão as constelações e galáxias que posso observar daqui da varanda. Esporadicamente vejo um cometa rasgando o céu do meu quintal. Não há iluminação, a única luz que se expandi é dos vagalumes e estrelas cadentes cortando o espaço. A sonoplastia é de elevar qualquer sensação auditiva ao estágio mais puro de beleza. Kant alegava que o juízo estético é tão forte no sujeito que causa uma sensação de querer universalizar aquele gosto, aquele momento. Faz com que o sujeito sinta a vontade de compartilhar sua sensação. Minha mente é um eterno conflito com esse paradoxo kantiano sobre a beleza. É verdade que naquele instante onde deslumbro de um sublime crepúsculo, penso nas pessoas mais queridas que conheço e exijo comigo mesmo que todas estivessem aqui para sentir esse efêmero entusiasmo causado pelo sol. É um pensamento "falso", não quero realmente estar acompanhado por todas as pessoas queridas, amo todos com o mais puro amor, mas, por favor, só quero ficar sozinho, quieto na minha consciência de mim mesmo. Essa minha exigência não é nada mais do que uma mera ilusão momentânea de felicidade e depois que esse bloco passar, como é que fica meu estado espiritual satisfeito de tanta felicidade, me vicio, fico viciado em ser feliz. Contudo, é um desejo muito complexo de cumpri e uma vez que experimentado é necessário sempre estar em posse desse estágio espiritual tão ardo de se atingir. Minha felicidade não está nas relações interpessoais, ela abrange toda forma de vida, toda relação sujeito-obejto. Tento sempre me distanciar da minha própria natureza, onde todo o desejo movimenta minhas ações. Esses monólogos são realmente esclarecedores. Melhor eu entrar, está ficando frio aqui fora e já avisto a primeira cor a nascer além do horizonte.

(Thiago Barros)

Carta à Pedro Lisboa.


Grande Pedro Lisboa, Meu amigo. Penso às vezes o quão seria horrível se não tivesse conhecido sua pessoa, seu pensamento. Já parou para pensar na sua própria existência? Sua idade em relação ao universo? Seu pensamento em constante mutação? E o momento em que tudo isso ocorre? O contraditório de todas essas indagações é pensar que nem uma delas faz sentido, visto que nossa existência não é em-si mesma auto-suficiente. Nosso fluxo é um contínuo vazio existencial paralelo com o tédio que discorre de uma sucessão de desejos intrínsecos ao homem, que corrói, e de forma demasiada manipula nossos atos. Contudo, nossa existência não estará nunca satisfeita, pois, se a existência fosse auto-suficiente não teríamos a necessidade dos desejos efêmeros. Preciso respirar um pouco de otimismo, meu caro amigo. A nossa existência está contida nessa homogeneidade entre espaço-tempo. Existimos de fato – por mais que às vezes tenha provas para argumentar o contrário – de fato existimos e percebemos nosso espaço preenchido e o efeito que o tempo nos implica. Sentimos o tempo assim como sentimos a rotação e translação do planeta Terra, sabemos de seu movimento, está em movimento, mas não sentimos o movimento propriamente dito. Poderíamos ser atemporal, talvez morressemos de tédio ou não, talvez não existisse qualquer sentimento. O que enfatizo é que só há um momento no qual, “compreendemos” a nossa existência, este é o presente, único e fugaz. O passado, amigo, nada mais é que uma mera ilusão criada pela mente no intuito de nos confortar e saciar algumas expectativas já conhecidas. Não retrocede, não volta mais. Devemos pensar sempre que algo que foi não é mais e o que é, doravante, não será mais. Essa é a complexidade que problematizamos em torno do nosso ciclo existencial. Não devemos ter medo de viver, não devemos ter medo de morrer, ao contrário, a imperfeição abri possibilidades para perfeição, o que não acontece no caso de admitirmos a vida como bela e perfeita. Há válvulas de escape para respirarmos certos prazeres essenciais da vida. Contemplar a natureza, uma obra de arte sublime, deslumbrar de uma sonoplastia causada por belos instrumentos musicais, ou simplesmente sonhar. Essas maneiras nos distanciam dessa turbulência terrena, nos afasta, nos tornam espectadores de uma cena com tons dramáticos, românticos, cômicos, toda a poética aristotélica. Retomando aquela questão do vazio existencial: se nossa existência em-si não vale de nada, então como explica nossa capacidade de imprimir propriedades em objetos? Se tudo está vazio de interpretação. Segundo Kant, o sujeito que imprimi a propriedade no objeto, nada está contido no objeto, antagônico a Aristóteles que elucidava na arte haver determinados sentimentos providos de específicos espetáculos, o que ele cognomina de Catarse. Amigo, sem tua presença me sinto em uma solidão intelectual, um sentimento derivado de toda essa complexidade que temos em viver. Por mais esporádico que tenha sido nossos embates, peço para que não perca nunca essa determinação e essa vontade de ir além do horizonte independente de que outros vão pensar ou especular. Atravessar o infinito é a nossa meta, explorar a nossa mente é a meta. Ouse, viva, aprenda, beba, dance, sorria, chore, sangre, cante, durma e não sinta mais nada. Tente o máximo, pois quando chegar ao máximo descobrirá que é o mínimo que pode conseguir. Dedico essa minha singela expressão ao meu amigo, meu Irmão que tanto admiro Pedro Lisboa. Meu amor por ti é misturado com ódio, da mesma forma que te amo é a mesma forma que te odeio assim quis Heráclito e assim é nossa emoção. Obrigado amigo por continuar existindo mesmo com toda conturbação violenta que experimentamos quando nos movimentamos. Viver hoje em dia é raridade, somos peças raras e como às vezes falo deveríamos construir um país onde somente pessoas como nós “filhos da puta, desgraçados, revolucionários e simpáticos” possam residir. Claro, essa utopia é bem seletiva, como na história do mundo nos mostra e Darwin ilustra, a seleção natural fará todo o processo de aniquilação dos inapropriados. Vamos continuar nessa luta para não ser aniquilados e poder um dia subir na montanha mais alta acender um cigarro e rir de tudo que está acontecendo lá em baixo sem se esquecer da onde viemos e que poderemos descer um dia para revolucionar algumas mentes.
OM MANI PADME HUM.