3.9.12

Aquela leve transitoriedade das coisas.

Enquanto uma ventania perturba a tranquilidade das árvores que estavam quietas se banhando de sol. Eu rezo para que esse vento assopre para longe o que tanto perturba minha alma. Para as árvores é necessário, assim como para minha vida também, esse vento, que traduz a mudança, o dissipar de pensamentos que atordoam o sossego da alma do homem. Essa tentativa de se externizar e observar o mundo como um espectador, não tem sido o método mais eficiente de contemplar a vida, ficamos muito longe de nós mesmo e dos outros, esquecemos-nos de fazer parte do mundo, de afirmar a vida. Toda essa transitoriedade tem seu valor positivo em alguns momentos. Porém, não vem me afetando de forma benéfica ultimamente, tenho me sentindo um pouco sem porto para me prender. O vento está muito forte, carrega e dissipa muito rápido as emoções. Não estou conseguindo observar e não estou tendo tempo para me manifestar com precisão. Às vezes penso que terei que ser alguma espécie de “Cowboy” do velho oeste, no estilo Clint Eastwood, para ter a velocidade e a precisão na hora certa de sacar a arma para disparar. Toda mudança deveria ser contemplada como natural, como parte do processo transitório da vida. No entanto, o apego, o egoísmo, todas as formas que o nosso ego usa para manipular nossos sentimentos e o nosso desejo, turvam nosso comportamento em relação às mudanças. Ficamos acomodados com algumas situações, gostamos de estar sentido o sentimento do momento. Pensar em perder isso é sofredor demais para o “nosso” ego. Ele fará de tudo para que não perca o que consome seu desejo, evitará a mudança. Contudo, a questão toda é perceber que vivemos sempre em uma batalha com o “nosso” próprio ego. Tudo é uma relação com você mesmo. O que eu quero? O que eu estou fazendo? Por que ou para que isso está acontecendo comigo? O que eu sinto? O que as pessoas sentem em relação a mim? Os meus objetos? Todas essas manifestações são puramente egóicas. O apego, a posse, a inércia, impedem que a mudança aja de forma natural. Prendo-me aos instantes demasiados intensos na minha vida, instantes que fervem todas as veias do meu organismo, que arrepia todos os poros da minha derme. Que trazem aquela leve euforia que acompanha uma sensação de tranquilidade imediata. Mas, tudo isso é fugaz, são quimeras que “a minha vontade de ter o imediato” trazem para satisfazer o meu momento e tornar-me satisfeito em curto prazo. Existe uma névoa que permeia o horizonte da minha percepção ainda. Não sou nenhum asceta, tampouco tenho a pretensão de ser um Buda. De toda forma, medito para estar desperto, acordado para a realidade, para as formas de encarar esse embate interno que nós mesmos críamos. Mas que mal há em querer estar perto das pessoas que nós amamos? Um amigo, certo dia me disse: “Não devemos confundir Precisar com Depender em relação às pessoas que amamos”. Realmente, meu erro é sentir que dependo de algumas pessoas, para ter um sorriso mais sincero no rosto. Não devo me apegar a essa dependência que envenena a alma, contamina o pensamento, aprisiona o que mais temos de maior no mundo, que é o amor, o carinho com o outro. Na verdade, eu preciso somente delas ao meu lado quando elas estiverem dispostas e quando eu estiver disposto a recebê-las. A vida é muito curta para ficar sonhando acordado, inventando alegorias para justificar meus sentimentos, preciso despertar para a realidade, por mais que eu tenha uma compreensão subjetiva dela. É necessário ficar desperto e praticar o desapego. Deixar fluir, viver o presente sem o peso do passado e sem preocupação com futuro. A realidade é o aqui e o agora. Está dada nesse exato momento que abro meus olhos cansados. Estou cansado demais! Preciso sossegar minha mente, preciso focalizar nos meus objetivos, preciso canalizar minhas emoções e transformá-las em consequências positivas, preciso não precisar de mais nada. Descansar!