Enquanto uma ventania perturba a tranquilidade
das árvores que estavam quietas se banhando de sol. Eu rezo para que esse vento
assopre para longe o que tanto perturba minha alma. Para as árvores é
necessário, assim como para minha vida também, esse vento, que traduz a
mudança, o dissipar de pensamentos que atordoam o sossego da alma do homem.
Essa tentativa de se externizar e observar o mundo como um espectador, não tem
sido o método mais eficiente de contemplar a vida, ficamos muito longe de nós
mesmo e dos outros, esquecemos-nos de fazer parte do mundo, de afirmar a vida.
Toda essa transitoriedade tem seu valor positivo em alguns momentos. Porém, não
vem me afetando de forma benéfica ultimamente, tenho me sentindo um pouco sem porto
para me prender. O vento está muito forte, carrega e dissipa muito rápido as
emoções. Não estou conseguindo observar e não estou tendo tempo para me
manifestar com precisão. Às vezes penso que terei que ser alguma espécie de
“Cowboy” do velho oeste, no estilo Clint Eastwood, para ter a velocidade e a
precisão na hora certa de sacar a arma para disparar. Toda mudança deveria ser
contemplada como natural, como parte do processo transitório da vida. No
entanto, o apego, o egoísmo, todas as formas que o nosso ego usa para manipular
nossos sentimentos e o nosso desejo, turvam nosso comportamento em relação às
mudanças. Ficamos acomodados com algumas situações, gostamos de estar sentido o
sentimento do momento. Pensar em perder isso é sofredor demais para o “nosso”
ego. Ele fará de tudo para que não perca o que consome seu desejo, evitará a
mudança. Contudo, a questão toda é perceber que vivemos sempre em uma batalha
com o “nosso” próprio ego. Tudo é uma relação com você mesmo. O que eu quero? O
que eu estou fazendo? Por que ou para que isso está acontecendo comigo? O que
eu sinto? O que as pessoas sentem em relação a mim? Os meus objetos? Todas
essas manifestações são puramente egóicas. O apego, a posse, a inércia, impedem
que a mudança aja de forma natural. Prendo-me aos instantes demasiados intensos
na minha vida, instantes que fervem todas as veias do meu organismo, que
arrepia todos os poros da minha derme. Que trazem aquela leve euforia que
acompanha uma sensação de tranquilidade imediata. Mas, tudo isso é fugaz, são
quimeras que “a minha vontade de ter o imediato” trazem para satisfazer o meu
momento e tornar-me satisfeito em curto prazo. Existe uma névoa que permeia o
horizonte da minha percepção ainda. Não sou nenhum asceta, tampouco tenho a
pretensão de ser um Buda. De toda forma, medito para estar desperto, acordado
para a realidade, para as formas de encarar esse embate interno que nós mesmos
críamos. Mas que mal há em querer estar perto das pessoas que nós amamos? Um
amigo, certo dia me disse: “Não devemos confundir Precisar com Depender em
relação às pessoas que amamos”. Realmente, meu erro é sentir que dependo de
algumas pessoas, para ter um sorriso mais sincero no rosto. Não devo me apegar
a essa dependência que envenena a alma, contamina o pensamento, aprisiona o que
mais temos de maior no mundo, que é o amor, o carinho com o outro. Na verdade,
eu preciso somente delas ao meu lado quando elas estiverem dispostas e quando
eu estiver disposto a recebê-las. A vida é muito curta para ficar sonhando
acordado, inventando alegorias para justificar meus sentimentos, preciso
despertar para a realidade, por mais que eu tenha uma compreensão subjetiva
dela. É necessário ficar desperto e praticar o desapego. Deixar fluir, viver o
presente sem o peso do passado e sem preocupação com futuro. A realidade é o
aqui e o agora. Está dada nesse exato momento que abro meus olhos cansados.
Estou cansado demais! Preciso sossegar minha mente, preciso focalizar nos meus
objetivos, preciso canalizar minhas emoções e transformá-las em consequências
positivas, preciso não precisar de mais nada. Descansar!
Um comentário:
esse vento que vem pode ser o nosso catalisador e um ajudante também! Sentir e se deixar levar
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