19.8.08

Cidade, Noite e Luzes


E as luzes do centro da cidade vão se apagando em uma tal sincronia, demasiadas esplendidas aos meus olhos solitários e cansados. Uma por uma em cada pilastra de concreto se acendem, do mesmo modo em que minha garrafa de cachaça se esvazia. Enquanto é dia sou alvo de inexoráveis críticas. Injustiçadamente violentado por pensamentos, palavras e olhares execrados, até mesmo por energia física. Não generalizo. 3 reais por semana é o meu sustento, penso, que nem com 10 anos de poupança não conseguiria uma ascensão paulatina. O que me restas a não ser 910ml de aguardente? É difícil acreditar como fui logrado por uma expectativa de vida plausível. Deixei pra trás tantos sonhos, amores para buscar um sonho abstrato que se dissolveu no ar numa brusca velocidade. Mas será culpa minha? Ou será a culpa de meros demagogos populistas? Não sei mais o que é ter uma noite de sono tranqüila. Ouço um tumulto, já não consigo entender mais nada. Não tenho minha cachaça, meus olhos estão embaçados. Algumas sinuosas me rodeiam, uma gritaria que deveria ser considerada poluição sonora. Meu corpo já não sente mais nada. Não consigo entender essa sociedade, outrora lutam pela preservação da natureza e por limpeza da cidade e agora as sujam com o meu sangue derramado. Agradeço a todos que me ajudaram jogando matéria orgânica, papelões, cobertores no lixo. 25ºC é quase uma nova era glacial ao meu ponto de vista. Despeço-me com um pouco de alegria, envolto de tanta confusão, tantas hemorragias, tantas fraturas, me fizeram lembrar meu nome que havia esquecido há algum tempo. Morro com a glória do pseudônimo Mendigo.
(Thiago)

9 comentários:

La! disse...

Quanta palavra difícil, quase me perdi.
Afinal, os 910ml de cachaça já tavam dentro de você no momento do texto né?
Papo de bêbado né brother?

te amo preiba encachaçado, falando difícil, ou não.

Anônimo disse...

Como podes me fazer ver beleza em uma situação tão inóspita?
Não, não estou achando bonito ver a desgraça de terceiros. Mas você coloca tudo de uma forma tão doce, tão poética.

Como eu já disse, você usa palavras muito sofisticadas. Tal como quando está de porre. Tem certeza que tava sóbrio quando escreveu isso? hahaha

A forma como você descreve a cena me arrepia. É quase como se sentisse o mesmo frio que a tua personagem. É assustadoramente bizarro.

A forma como você usa as palavras me impressiona, apesar de eu te achar esnobe. Pronto, falei!
É, esnobe sim, a metade das pessoas que vêm aqui não conhecem nem meia dúzia das palavras que você emprega.

Mesmo esnobe, você é de longe a coisa mais doce que eu já conheci.

Beeijos!

Veronique Valeriuns Spenser disse...

Quase ninguem se preocupa com as necessidades de terceiros e achei isso muito legal...

Quem vos fala é a amiga da Thais!

Unknown disse...

Gosto dos seus textos!
Eles são tão gelidos, tristes,
mas ao mesmo tempo doces e envolventes.
To na espera do livro. Pelo que vejo aqui, acho que vai ser muito bom!!

Te conhecendo pouco eu gosto de ti. Você parece ter alguma coisa na cabeça.


Será??

SP disse...

Muito interessante.
Gostei...

Anônimo disse...

Meu "cidadão de papelão". ^^'

lalalla disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Carac Thiago, ficou muito bom esse texto. Fica até difícil entre tantos textos maravilhosos, escolher o melhor. Só posso te dizer: parabéns! Parabéns por todo esse talento e essa facilidade e singularidade pra se expressar. Sei que você tem muito mais pela frente.
Te desejo do fundo do meu coração tudo de bom! E que muitas outras pessoas tenhas a oportunidade de te conhecer e ler os seus textos ;)

Já falei demais!
Beijão pra ti! *UPA!*

Anônimo disse...

Dificílimo, entre os textos, escolher o mais belo, apesar de frios e tristes.
Parabéns por transformar com tanta sutileza tal situação!