17.6.12

Crônica sobre uma tosse inexorável.

Ele tem tido suas piores madrugadas de sono que há muito tempo não tinha – desculpe-me o exagero, são duas semanas no máximo – muitos poderião pensar que ele está somente apaixonado ou que o seu amor não está sendo correspondido, mas, veja bem, ele rezava para que fosse isso mesmo. Na verdade uma tosse vem assolando suas madrugadas de maneira inexorável, o estridente barulho causado no silêncio lhe incomoda tanto, ao ponto de achar que ficaria surdo ou louco. E a sua inquietude misturada com um pouco de compaixão que sente pelos seus vizinhos, vão além da mera dor física e irritação na garganta. Ele pensa consigo mesmo: Coitados dos meus vizinhos que devem estar dormindo essa hora em suas camas aconchegantes e quente, com sua esposa e filhos carinhosos imersos no silêncio da madrugada até ouvirem uma tosse insuportável rasgando o sossego que eles tanto procuravam até conseguirem dormir nos braços dos deuses dos sonos e sonhos. Ele tem visto o dia amanhecer todos os dias, e não é por que ele está deslumbrando e contemplando o crepúsculo, de certa forma, mal consegue se concentrar no espetáculo da natureza que ele tanto ovaciona. O que lhe traz essa insônia é o incomodo da sua tosse; é ela que tira toda sua paz, sua tranquilidade. Infelizmente, ela só lhe ataca na madrugada, no momento silencioso – pelo menos era para ser - que consegue ter. Bom, ele não reza para que melhore, ele se remedia, exercita sua saúde para poder se manter de pé e tentar refletir sobre o momento, pois até na enfermidade o homem tem que se manter saudável e com a sua mente sã, senão enlouquece com o barulho ensurdecedor daquela insuportável tosse maldita que ele vem cultivando por algumas semanas. Creio que seja uma fase, um momento de reabilitação da minha saúde. Visto que, até na saúde a lei da transitoriedade das coisas é aplicável.

(Thiago Barros)

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